terça-feira, outubro 30, 2007

UMA RESPOSTA AO POETA

Vou começar me apresentando, já que me encaixo perfeitamente na descrição do poeta-(a)tingido-pela-idiotice, o que me exclui do grupo do “nem toda idiota é poeta” e me inclui no graças a Deus por isso. Sou poeta, sim, e tenho encontrado minha poesia na vida e na morte, e não tanto na tranqüilidade, como na dor. Sou poeta, sim, e se isso me faz ser/parecer idiota, que me importa? Importa a quem? Aos que não me lêem em meus versos, tanto faz... E aos que lêem o que escrevo, tanto me faz que considerem idiota, já que o importante (para mim) é que leiam, para bem ou para mal... Já pensou que os amigos mais íntimos do poeta são mesmo o papel e a tinta (e... bem... talvez, a tela e o teclado do notebook), que recebem e carregam as palavras, os hífens, os acentos e a falta de acentos, os pontos, os dois pontos, os três pontos...? E, por mais idiotice que haja (ou deixe de haver) no que neles se lança, permanecem ali, dispostos e comprometidos com o que escrevemos... E, a menos que o cartucho da impressora seja uma farsa reciclada, a tinta vai conservar no papel por muito tempo o que deixamos sair de nós, na esperança de que encontre alguém... Até parecem idiotas, mas são cúmplices do poeta...

Vou continuar... explicando porque estou escrevendo. Porque leio o que Você escreve e reconheço o poeta-Você, mesmo quando escreve crônicas dos seus dias. E toda vez que leio, o poeta-eu se diverte ou se irrita, mas sempre quer escrever uma resposta. E, hoje, especialmente, não deu para impedí-lo. É por isso que escrevo. Porque senti a dor que vocês estão sentindo, por perder sua amiga, de uma forma tão... dolorosa, com o perdão da redundância. E senti sua revolta por ouvir julgamentos expressos por pessoas que se arvoram juízes e julgam... e aqui a redundância é proposital. Porque aqueles que têm coragem de julgar alguém cujo corpo está inerte num caixão, são apenas pessoas que julgam... nada mais. Sei: a base de nossas crenças é totalmente diferente. Mas, estou com Você, quando não aceita ouvir tais julgamentos. E, principalmente pela minha fé em Jesus, totalmente enraizada e entranhada dentro e fora de mim, é que não posso me unir aos que julgam, pois nem Jesus se pronunciou sobre essa dor, nem por escrito, nem falando com Seus amigos e inimigos. Todos os dias, recebo o Amor do meu Deus, que me ama como sou e tem muita paciência comigo, enquanto me transforma naquilo que Ele quer que eu seja... Todos os dias, em todos os instantes, preciso respirar Sua misericórdia e Graça, para ter a esperança de permanecer com Ele e perseverar em minha caminhada para Ele. Embora queira amar, todos os dias falho nisso. E a misericórdia de Deus me alcança, por pura Graça. Quem sou, para julgar quem quer que seja, vivo ou morto? Quem sou, para decretar condenação eterna a alguém a quem Deus conhecia, porque criara e amara e com ela sonhara? Quem sou eu para julgar, se sequer posso imaginar a dor que sua amiga vinha sentindo, a depressão que a oprimia e o desespero que a fez pensar que a morte teria mais graça que a vida?

Suicidas são pessoas que não crêem nesta ou em qualquer outra vida e há muitos deles vivos por aí... A maioria das pessoas que decidem pôr um ponto final em sua dor através da própria morte, buscam, na verdade, alívio e vida... porque cansaram de sofrer e não, necessariamente, de viver. Espero, com todas as fibras de meu ser poeta e apaixonado por Jesus, que Sua misericórdia seja a resposta a estes gritos que a si mesmos se calam, para pôr fim às horas escuras e doentes, que se prolongaram naquelas vidas. E se me aproximo desse quadro, é com reverência e misericórdia. E muito amor pela família e os amigos, que, por causa dos julgamentos que ouvem ou mesmo fazem, baseados em religiosidades e distorções, tendem a ficar condenados a um inferno de inquietações e medos e certezas quanto a algo que não depende dos julgamentos de quem quer que seja, mas do Amor de Deus. Porque Deus, que amo e é Amor, traria a eles paz e descanso, mas os julgamentos e as condenações duramente impostas (que nascem daqueles homens sobre os quais Jesus disse que se colocam na porta do Reino de Deus e não entram e nem deixam que os outros entrem), trazem confusão e culpa... Sou mesmo a favor da vida e não recomendo matar ou matar-se como solução para ninguém. Mas não posso julgar a vida ou a morte de alguém. O Espírito Santo, que mora em mim, ajuda-me a julgar meu próprio eu e o único sentido de minha existência é amar ao meu Amado e a todos os próximos-mesmo-que-distantes, como Ele me amou. E porque Ele me amou, sempre vou viver, cantar, escrever, pregar e ensinar Justiça, Paz e Alegria no Espírito Santo, características do Reino de Deus, que está dentro de mim... Não conheço a família da sua amiga, mas faça meu amor chegar até eles, até os amigos, até Você. Que recebam a Paz e confiem no Amor de Deus, para que possam viver! Quanto à sua amiga, não creio que possa me comunicar com ela, nem julgo o modo como viveu ou morreu. Respeito a dor e o desespero que vivia e, calada, agarro-me a uma esperança bem forte de encontrá-la, na eternidade com o Senhor Jesus, não porque eu ou ela tenhamos merecido isso, mas por causa do Amor tão grande com que nos amou, de graça e totalmente pela Sua Graça. E, sinceramente, não me (im)pressiona qualquer julgamento em contrário...

No mais, poeta amado, contabilize aí que há, pelo menos, alguém que não vê idiotice no que lê de Você nos seus textos, seja em jornais ou nas páginas amareladas que encontra nas gavetas do passado. Mas, se Você estiver certo e todo poeta for mesmo idiota, que tal criarmos um partido ou associação para nós? Apenas serão aceitos os conscientemente poetas que se divertirem ao serem julgados idiotas por terem coragem de se expressar com movimento e paixão... Bom... quase sempre, ainda que não constantemente...

Escrevi esta resposta ao meu irmão, em 29/10/2007.

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