quinta-feira, dezembro 20, 2007

EM COMPASSO DE ESPERA


Algo acontece comigo quando tenho que esperar...
Dentro de mim, há borbulhas que se aquecem
e se esquecem de apagar
este fogo de ter que fazer.
O que tenho que fazer?

Há borbulhas que, fervendo,
vão rasgando por dentro e doendo
e fazendo doer os momentos
que se passam...
em compasso de espera.

Vejo o que acontece na Nigéria,
ouço o que se passa aqui na esquina,
sinto um fogo arder pela Praça Luis de Camões,
desejo 24 h de contemplação
e até isso traduz o desejo de fazer...


Pessoas me vêm à mente,
em pensamentos que desmentem
a verdade desta espera.
E, quando penso neles...
Katharine Kulmann, Ruth Heflin,
Emanoel da Nigéria, Teresa de Calcutá...
vejo que há sempre gente fazendo
o que o Amor manda fazer,
com resultados de Amor concreto
que não dá pra desmentir...

E aí o meu fraco amor me recorda
que nem amo tanto as tribos dos diferentes,
dos metaleiros, dos emo, dos rastafári,
dos dependentes, dos inconseqüentes,
dos tatuados, dos que usam piercings,
dos deprimidos, dos indecisos, dos decididos,
dos loucos, dos mendigos, dos miseráveis,
dos velhos, dos jovens, das crianças,
dos esquecidos, dos não-lembrados,
dos doentes, dos desenganados,
dos pobres, dos órfãos e das viúvas...
... nem os amo tanto assim...
pois nada faço e nada deixo de fazer
por nenhum deles...
...a não ser uma oração que, talvez,
nem seja por eles, seja por mim,
do tipo que pode me desobrigar,
já que, afinal, oração é algo que fiz...
E, agora, nem sei dizer:
se o que estou pensando enquanto espero
é sinal de que não sei esperar
ou de que o compasso de espera
está no fim e, enfim,
a hora veio e já é esta,
de AMAR de verdade
àqueles que ninguém mais ama...
...nem mesmo eu...
...ao menos, até aqui.